Não serves de nada

Quero falar contigo, dizer-te um monte de verdades, quero acusar-te de todos os meus problemas, quero fazer de ti um mártir da minha causa... Quero agarrar-te pelo braço e fazer-te olhar para baixo, fazer-te crer que eu existo, fazer-te perceber que eu estou aqui, que preciso falar contigo, que preciso da tua atenção! És demasiado importante para te preocupares com as coisas más, tu só és louvado pelas boas coisas, só és louvado por dares uma esmola àqueles que mais sofrem, por fazeres correr umas simples gotas de água sobre os trilhos da terra seca, por permitires que um simples coração continue a bater, mesmo que continue sozinho, mesmo que tudo o que o prendia aqui tenha desaparecido, mesmo que todos os outros corações tenham parado de bater... Tu és um simples nome, um escape em horas de aflição! Não serves de nada!

Permites que homens vivam do teu nome, permitas que falem por ti, que decidam por ti, que, simplesmente, se justifiquem e te justifiquem todos os dias, cobertos pelo maldito ouro que brilha na cara daqueles que mais precisavam de o ver transformado num mero grão de arroz! Mata-se em teu nome! Pede-se a paz em teu nome! Tu não passas de uma vírgula nesta maldita história que se vai desenrolando aqui... Não serves de nada!

Se fosses capaz de fazer do Amor um sentimento puro, se fosses capaz de o espalhar por todos, se fosses capaz...

Se Ele alguma vez tivesse sido capaz de fazer algo de bom, algo de tão bom assim, que merecesse todas essas preces, todas essas mentiras!.. Desenganem-se... não foi! Ainda se morre de fome, de guerra, de maldade! Ainda se morre porque ele anda desatento! Ainda se ouve o seu melhor amigo perguntar: "Onde estavas Tu, Senhor, naquele dia?"

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João Ferreira

18 de Junho de 2006

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