Passando uma noite

Ver aquela nuvem a passar, a mover-se, lentamente, da esquerda para a direita, tornou-se no meu passatempo favorito desta noite...
Começa a aparecer, bem lá no fundo, bem longe, aquela lua, uma lua que quis só minha... Hoje parece-me tímida, não quer falar muito comigo. Tudo bem, assumo a derrota e fico aqui a olhar.... A brisa parece querer vir dizer-me boa noite, parece querer sentar-se ao meu lado e ficar a assistir, comigo, ao nascer de mais um destes dias. Calma, reparo agora, enquanto olho para este lado, o direito, que brilha, ali, uma estrela! Ah! Vejo, ali, mais uma!.. A luz da cidade quer tornar esta noite numa noite tímida... "Ela vestia sempre preto." ... "o mesmo recato..." ... Desvarios, embalados pela hora, tardia, que vai passando, lentamente, nos ponteiros daquele relógio. Esta noite quis estar sentado ao teu lado, partilhar contigo este momento! Não sei onde estás agora, não sei se vês a mesma lua que eu... Acho que agora, neste preciso instante, não quero saber mais! Consigo ouvir claramente o som deste comboio que passou agora, bem lá longe… Incrível! Neste preciso momento senti uma imensa vontade de sair a pé, de passear por estes telhados até encontrar o sítio ideal, até puder ficar sentado a ver o dia nascer. Como eu tenho saudades de ver um dia nascer! Recordo-me, agora, da última vez que o vi… Estava tão cansado, tão dominado pelo sono e pela vontade de abraçar a cama que não fui capaz, se quer, de olhar em frente, de sorrir… Lembro-me, apenas, de dizer algo parecido com “Ei…agora já podemos ir dormir!..” … Bem, o tempo vai passando, leva com ele a minha primeira frase, a minha primeira visão. Se olho, simplesmente, para o lado direito, já não vejo a lua nem as estrelas, já só vejo o preto avermelhado pelas luzes que estacam nas ruas…

A musica acabou… Já não sinto de vontade de a ouvir mais uma vez...

Vou dormir.

...


João Ferreira

18 de Junho de 2006

Comentários

  1. lembro-me, como se fosse hoje... o dia em k li isto!e sabe mto bem recordar... como dzia a Bea ha mto tempo, sao saudes boas, k s guardam no lugar mais bonito da alma!

    "Ela trabalhava numa casa de alterne.
    Ele alternava as noites entre casa e casas de putas.
    Ela vestia sempre preto. Ele achava o preto deslocado.
    Uma noite sentou-se na mesa dela. Ofereceu-lhe uma bebida e um sorriso.
    Ela aceitou a bebida. Hesitou no sorriso.
    Aceitou.

    Procurou-lhe os olhos. Ela baixou-os.
    Ele gostou.
    Ele não falou. Ela nada disse.
    Olhava-a.
    Ele ficou na mesa dela toda a noite. Lendo, interpretando o silêncio. Os gestos pudicos, o negro da roupa.
    O recato numa casa de putas.

    No fim da noite ela saiu sem lhe perguntar se a queria. Simplesmente, levantou-se e saiu.
    Ele voltou na noite seguinte e todas as noites.
    A noite dele a mesa dela. O dia dele a espera da noite. A espera dela.

    Uma noite ele estendeu-lhe a mão. Saíram.
    Na rua falou dele. Falou dela.Falou na casa que era dele onde uma estranha habitava. Não ela.
    Falou no lugar que era o dela. Ela não pertencia ao lugar.
    Não era o lugar dela.
    Tão diferente o preto que ela vestia da cor do lugar. Tão diferente o silêncio dela dos sorrisos falsos, das palavras abundantes e ocas. Tão diferente o recato, o pudor nos olhos baixos, da luxúria, da oferta do corpo no lugar.

    Ela apertou-lhe a mão como se só ele entendesse.
    Ele sentiu-se único e responsável.
    Ela fez amor com ele como se o amasse.
    Ele fez amor com ela amando-a.

    Ele deixou de alternar entre casa e casas de putas.
    A noite, o bar, a mesa dela, casa única.

    Uma noite ele assumiu perdas e derrotas, impotência e exageros.
    Disse-lhe: - Vem viver comigo.
    Ela apertou-lhe a mão.

    Nessa noite não pegou, como todas as outras noites, no dinheiro que ele pousava ao lado da mala. Como se não existisse compra. Como se nunca tivesse havido venda.
    Fez amor com ele como se o amasse.
    Ele fez amor com ela amando-a. Chamando-a sua.

    No dia seguinte esperou-a no quarto feio e frio a que chamava agora lar.
    Ela não chegou.
    Esperou-a mais um dia e uma noite. No outro lado do telefone o silêncio.

    Procurou-a. A mesma mesa. O mesmo vestido preto. O mesmo recato.
    Outro homem.
    Agarrou-a por um braço. Gritou-lhe dor e amor. Declarou-se perdido, a culpa dela.

    Alguém o expulsou da noite, do bar, da mesa, da vida dela.
    Alguém lhe disse rindo:
    - É a melhor puta da casa."

    "Ela vestia sempre preto" e o preto misturou-a com a noite e perdeu-se!
    um brinde, nao à melhor, mas à encenaçao k m deu mais gozo fzer ctg!
    beijoka

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