A sala de quatro paredes.

Ponderei não escrever mais. Nunca mais!..

Não fui capaz de ficar mais de um segundo sentado,
Mesmo estando cansado com o peso daquele pensamento.

(Dificil de mais foi conseguir decidir...)

Sentia-me tão perdido, fechado naquela sala de quatro paredes...
Nossa.
A nossa sala de quatro paredes.

Para quê escrever se estavamos lá só tu e eu?
Para quem iria escrever mais?

Ler-te-ia todos os dias, como tu farias comigo.
Sem janela por onde ver o sol, o céu, a terra ou mar,
Seríamos tão somente nós os dois.
Perdidos na nossa sala de quatro paredes.

Longe do tudo. Longe do nada.
Vivendo entre um tudo e nada,
Presentes um para o outro.
E o presente de um seria o presente do outro.

Nada mais?..

Mas hoje acordei e tu não estavas lá...
Hoje acordei e tu já não estás cá.
Hoje já não és, já não serás!..
Hoje apenas foste.

O meu presente não será mais o teu...
O teu presente não será mais o meu...
E do futuro quem irá tomar conta?..

Por isso hoje voltei a precisar escrever-te,
Para que não esqueças nunca da nossa sala -
Da nossa sala de quatro paredes.

Eu não esqueço e sei que tu também não.
Saio por onde entrei. Bato a porta.
Mas não esqueço nunca onde ficou a nossa sala de quatro paredes!..

João Ferreira

Comentários

  1. Acho que já percebeste como me custa entrar aqui, como me sinto a roubar o teu refúgio, a profanar-te, mas como foi pela tua mão que esta noite a porta abriu e me trouxeste, estendo o olhar e respiro uma vez mais nesta sala feita de palavras, nesta sala que imagino branca, nua e solar mediterrânica, com a fragilidade e a força absoluta de ti. E do futuro quem irá tomar conta?... TU, eu, e todos os 'tu' e 'eu' de cada dia que nunca é futuro, estamos condenados a ser passado de nós mesmos.
    Vir aqui é como respirar na montanha, dói um pouquinho, abre por dentro e faz viver.
    *

    ResponderEliminar
  2. :)
    Muito bom. Muito bom mesmo!!!

    ResponderEliminar
  3. por vezes essas tomadas de decisões, nem sempre se concretizam, e vivem conosco no nosso quotidiano, sem notarmos... superar isso tudo, é de facto um grande "salto" na tua vida...


    ResponderEliminar
  4. Quando o "nós" faz com que nada à volta importe, que seja indiferente ou branco mesmo, parece-nos que não é necessário mais nada para nos completar, nos somos o suficiente e o branco a volta não nos afecta... Passa-se de Um "nós" par um "eu" e nos somos metade e não nos bastamos e o branco a volta torna-se preto e tenta conquistar-nos, não o deixes vence...
    (Desculpa)
    Vítor Diogo R.

    ResponderEliminar
  5. Sempre soube que eras tu :P Os heteronimos sao sempre uma parte de nos, tu sabes bem ixo...conheces a Madalena, a Clara e a Rita... ;D pedaços meus!!!

    ResponderEliminar
  6. É sempre tão delicioso 'ler-te', intenso e bonito, a respirar e a transpirar de emoções FORTES, fortíssimas!

    Viver assim a vida é o mais lindo, o mais valioso!

    As decisões, o 'eu', o 'tu', o 'nós', o que nos inunda a alma de luz e esperança tudo isso é teu e vive em ti! :)

    És uma inspiração!

    E já agora! Sui Caedere! Excelente, forte, cheia de sentimentos puros e profundos!

    Os meus mais sinceros PARABÉNS a ti e a Bea, e a minha admiração pela coragem e pressistencia por levarem isto até ao 'fim', que a meu ver é o maior dos inicios ;)

    Beijinho!

    ResponderEliminar
  7. Ola miudo!
    Ja ca nao vinha ha muito tempo... Depois de ler este teu texto, fiquei sem palavras - é isto que os sentimentos inesperados fazem em nós... Cegam-nos, enchem-nos de tal forma que parecemos vazios, cocégas de tudo; seres atónitos, errantes na tentativa de auto-compreensão.
    Tento aos poucos digerir o que li, o que senti. É complicado. Vinha apenas em busca de novidades, mas a vontade é deixar-me levar pelo embalo doce de sensações, fechar os olhos e deliciar-me na beleza da tua escrita, afogar-me nos carinhos com que me presenteia esta tua composição de sentimentos, delicada e genial. Tens uma sensibilidade invejável para a captação de momentos em palavras. Através dos teus textos, a vida parece mais bonita (mesmo nos momentos tristes).
    Hoje, fizeste-me sorrir...
    Eu sempre soube que é um privilégio ter a tua amizade! :)

    Beatriz

    ResponderEliminar
  8. "Por isso hoje voltei a precisar escrever-te,
    Para que não esqueças nunca da nossa sala -
    Da nossa sala de quatro paredes."

    ResponderEliminar

Enviar um comentário