Hoje.

Já não escrevo faz tanto tempo… Tenho saudades da prosa, dos longos textos - onde me perdia, sem ter a noção do que escrevia. Hoje sabe-me bem parar para ler o passado e ver que fui “guardando a minha vida em papeis”… Sabe bem. Ponto.

Escrevi muito sobre amor, sobre um eu e tu escondidos, distantes e ausentes. Vive amores e desamores, potenciados num acto de escrita louco e de revolta, mergulhados num jogo de palavras que foi nascendo com o passar das horas, por vezes tão tardias… Por vezes sentia o meu ego querer ter mais força para a escrita do que eu mesmo – estranho pensamento - numa heteronímia quase sem sentido, numa luta entre a vontade de estar parado a pensar e de responder ao apelo de um simples comentário. Todos somos loucos e todos gostamos de ser assim! Nem todos o assumimos…

Gosto de loucuras e desvarios e gosto de escrever! Gosto. Nem todos se sentirão felizes ao deixar os dedos guiar-nos por uma estrada sem fim, com tão pouca luz que estamos sempre com medo de ter um embate violento, que nos levará a vida o discernimento para chegar ao destino. Destino?.. Tão bom partir numa viagem sem destino, não é? Quantos o fazem? Quantos gostariam de ter feito?

Fernando Pessoa disse que o poeta era um fingidor, que fingia tão completamente, que chegava a fingir que era dor, a dor que deveras sentia… Dor não senti… Haverá algo mais puro que a dor? Tantos perguntaram sobre quem é o “eu” dos meus textos. Serei eu? Certamente que estarei sempre presente - sim. De outra forma não fazia sentido para mim escrever! Preciso estar presente, preciso sentir, preciso que me doa e faça sorrir, que me agarre e faça implodir um “sorriso inteiro” e não um “meio sorriso”… Gosto de sorrir sozinho, numa aparência triste, que a todos engana! Tão bom quando somos capazes de sorrir para nós mesmos e mais ninguém!

Olho o passado e vejo que também que toquei o Mar, a Lua, o Céu, a Liberdade, a Saudade, a Despedida… tantos momentos e sensações, tantas vontades de mudança, tantas revoltas, onde não rugem os tiros dos canhões! Sem sangue, nem luta, sem a espada e a loucura, o cavalo branco ou árido calor do deserto, sem a esmagadora força dos pesados ou a delicadeza e inteligência dos pequenos, escrevi o que senti, e libertei a revolta e a loucura, num elogio a mim mesmo: sei que já deixei escrita parte de mim! Parte de mim, uma tão pequena parte… Quanto mais para viver? Quanto mais para sentir e crescer? Quero ser um eu mais velho, cada vez mais velho, numa luta interior de gerações, até que prevaleça a juventude e a irreverência, colmatada pela cultura e a responsabilidade de um futuro que vou viver! Que vamos viver!

Quero conhecer tanto… E vou escolhendo o caminho, as pessoas, mas nunca as sensações e as emoções; nunca os sentimentos e o grau de loucura, que mata qualquer ponta de certeza! Quero crescer e viver! Ser livre e sonhador! Quero ser louco e destemido! Quero ser criança, sozinha, passeando num espaço, perdido!... Sou e serei criança, sempre que precisar!.. Como Álvaro de Campos disse “Depus a máscara e vi-me ao espelho. — Era a criança de há quantos anos. Não tinha mudado nada... É essa a vantagem de saber tirar a máscara. É-se sempre a criança, O passado que foi A criança. (...)”.

Hoje quis, mais uma vez, tirar por instantes a mascara…

“Simples”…

Comentários

  1. Gosto de ti, gosto das tuas máscaras e dos jogos que fazes com elas, gosto da forma como as giras, como malabarista, deixando entrever o rosto, mas gosto sobretudo da forma como conheces cada máscara e sabes que são matéria de ti, como por entre as máscaras d poeta (sim, que a tua prosa é de poeta) és mais vivo e autêntico, és louco, amante, revoltado, és o mais jovem e o mais velho dos homens. Já viveste tanto e viveste-o em texto...

    Hoje lembrei-m de uma coisa que escrevi, a outro propósito e noutro contexto, há meses, p a gaveta (sim, que eu não tenho a tua valentia, ou a tua loucura :p): "Fecha as portas, mas deixa-me abri-las…" - Não quero a tua história nos teus textos, mas quero-t neles, livre e destemido, livre de quem és para mostrares quem vive dentro de ti, quem constróis, quem manipulas como aquela marioneta d madeira já velha e trôpega que de repente volta o rosto para ti, te confronta e ela és tu...
    *

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  2. Nós somos aquilo que escolhemos ser..e provavelmente não escolhemos , simplesmente somos ,e a forma como encaramos a vida não está naquilo que nos apresentam mas sim na forma como nós estamos .

    Assim um homem simplifica a vida em saber sentir.

    Aquilo que de melhor há em nós devemos partilha-lo braços abertos com o melhor amigo ou amiga .E assim és tu :). A Amizade é o melhor que pode haver.



    Pedro

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