Ensaio

Quanto vale uma palavra?

Escrevi e agora penso que não sei responder. Os meus dedos movem-se, lentamente, pelo teclado, numa dança sem ritmo, como se as minhas duas mãos fossem um par desencontrado, num vazio palco de placas pretas… Escrevo e apago o escrevo.

Volta tudo ao inicio.

Numa sala de espectáculo vazia um homem surge vestido de negro. O olhar cansado e os gestos lentos prendem a atenção do público. Observam-no. Sente-se observado.

Pára. Num plano apertado conseguem-se ver as rugas carregadas no rosto moreno, de pele seca. Gasta. O seu olhar está fixo no fundo do palco, com receio de que um gesto seu provoque um suspiro na sala. Não quer - não vai encarar o público.

Caminha em direcção ao centro do palco… Passo a passo, pelas placas pretas de madeira… Passo a passo… Pelas placas… Passo a passo. Pára. O coração do público bate ao ritmo de cada passada.

A cena perde a cor… Preto.

“Não sei não ser assim!” – Um berro faz estremecer a sala. Os gestos são praticamente nulos e apenas os dedos dobrados na mão se apertam com toda a força. O corpo fica estático. Ao longe ouve-se uma porta abrir e o vento parece entrar na sala. O zumbido fica no ar.

“É um zum zum permanente… zzzzz… zzzz…. zzzz… Ouvem?” – O sussurro é de tal forma lento que no público se ouvem as gastas molas dos bancos chiar em gestos e movimentos, medidos a cada milímetro – todos com medo de serem ouvidos…

O som de um piano começa a ouvir-se por entre o zoar...

“O meu nome é Pedro – o vosso qual é?” – Um minuto de silêncio quebrado pelas lentas passadas no palco negro… Lentas…
(silêncio)

“Não me vão responder. Nunca o fizeram” – O desalento marca cada palavra. Cada frase é notadamente pensada e construída propositadamente para responder ao silêncio constrangedor que está em cena.

“Sentem-se mal? Custa-vos ficar em silêncio não custa?..” O tom é acusatório e sarcástico.

“O meu nome é Pedro... Tenho 47 anos.” – uma luz sobre o centro do palco acende-se lentamente. No fundo o olhar cansado, pesado e triste segue com atenção o movimento que a luz toma ao espalhar-se na madeira preta do palco.

Caminha em frente e diz:

“Estou aqui para


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