A Arte do Serviço Público

Aristóteles disse que o "Homem é um animal político"...


A “A República” de Platão é originalmente intitulada de"Πολιτεία" (Politeía)...


Não escreveria neste momento nada sobre a Política e sobre o que penso dela se não tivesse a nítida visão de uma Sociedade cada vez mais doente e doentiamente obstinada por destruir o verdadeiro significado que a Politica tem e deveria continuar a ter.

Mas antes de mais, há que esclarecer-vos de alguns pressupostos, essenciais:


1 - Defendo um modelo de sociedade Socialista e Humano

2 - Partilho o ideário e os objectivos de Centro Esquerda

3 - Sou militante do Partido Socialista e da Juventude Socialista

4 - Não ocupo nenhum cargo politico

5 – Sou democrata e Republicano


Não teria sido necessário começar por enumerar cada um destes pontos, se não vivêssemos numa época onde se assume e se tomam decisões com base naquilo que pensamos ser verdadeiro e não com base naquilo que estudamos e sabemos ser verdadeiro.


Para que não houvesse dúvidas sobre a minha ligação à Política, poupei o trabalho a quem esteja eventualmente interessado em ler esta nota com outros olhos. Não sou seguidista e não vejo as instituições apenas pelas pessoas que as constituem e lideram.


Há quem chame à Politica uma Arte e quem lhe queira chamar uma Ciência... Acredito que a capacidade de Liderança, que engloba também o sentido de Justiça, a Visão estratégica, a Motivação e sentido de Responsabilidade tem uma origem na essência de cada um de nós, que se potencia pelo estudo e pelo rigor que só a Ciência confere. E se acredito que qualquer cargo político exige esta capacidade, como factor essencial para o sucesso do Serviço Público, então sim a Política, para mim, une uma Arte e uma Ciência em prol das Sociedades.


Sei bem que os Partidos são estruturas muitas vezes fechadas, que guardam dentro de si História e histórias cinzentas que nunca ouvimos contar... Mas também sei que lhes dão vida pessoas, cidadãos, que abdicam do conforto da critica destrutiva e partem à luta pela defesa do seu modelo de Sociedade, respondendo, assim, às necessidades que esta nos impõe.


Não podemos, por isso, diabolizar os políticos e as politicas, de forma indiscriminada e perigosamente genérica. Não podemos e não devemos ser cegos para não conseguirmos ver o que de bom e mau é feito. Não nos podemos resignar à crítica e mantermo-nos afastados da vida da Polis, porque é essa vida que nos garante Educação, Saúde, Justiça, Defesa, Cultura, Economia viva e Segurança Social. E todos podemos e devemos ser políticos dentro do nosso âmbito social. Todos temos um papel fundamental para que a Sociedade onde nos inserimos possa dar-nos aquilo de que precisamos. Em Democracia os caminhos das Nações estão na mão daqueles que livremente cumprem o seu dever cívico e votam, ou que, não concordando com as alternativas propostas, livre e civicamente apresentam as suas.


Mas nem tudo é perfeito e existem muitos, demasiados, diria eu, interesses e jogos instalados no mundo dos Partidos Políticos. Existem muitos doentes que encontram na esfera partidária e no mundo do Serviço Público um escape para as suas incapacidades de crescerem pelo mérito pessoal. É por isto que defendo a Meritócracia, e luto para que os partidos se abram a este paradigma definitivamente. Não podemos aceitar candidatos a cargos políticos que não sejam, de forma evidente, cidadãos exemplares, que reunem capacidades suficientes para os cargos que pretendem ocupar.


Esta avaliação não pode estar do lado de quem vota, mas sim do lado das estruturas que suportam estas candidaturas e os partidos não se podem, de forma alguma, subjugar ao interesse de vencer eleições, derrotando assim o projecto de crescimento das Sociedades.

Tomar decisões sobre os valores estruturais e basilares das Sociedades está na mão das estruturas políticas, que precisam credibilizar-se, através da escolha de agentes formados, dignos e verdadeiramente merecedores de cargos políticos.


Não me cabe a mim apontar o dedo seja a quem for, porque o estaria a fazer com base em dados veiculados de forma muito estreita pela comunicação social e por outros meios de divulgação, mas é certo que o Partido Socialista e os restantes partidos precisam parar para perceberem que as suas atitudes estão a esgotar a Arte que deveria haver na política e a transformá-la apenas num conjunto de estruturas cientificamente programadas para alimentarem as necessidades eleitorais dos diferentes partidos.


Hoje indigno-me por serem tão poucos os que conseguem olhar para a política como uma Arte de Serviço Público, honrosa e louvável.


Não me indigno menos com os que se cansaram de lutar por uma mudança.


Em 1974 muitos foram os que, a esta hora, lutavam, em segredo, para construírem uma alternativa que, na madrugada de 25 de Abril, abrisse a Política à Arte do Serviço Público livre e democrático.


Aos de 74 e aos de 2011:

- Obrigado!


(João Ferreira, 22 de Abril de 2011)

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