Fechado para Obras

Escrever esta nota sobre o que penso acerca da situação Política e Social actual é, por si só um exercício que envolve algum risco… Nas últimas semanas o país parece viver enclausurado numa enorme sala de quatro paredes, outrora brancas, que estão hoje cobertas de propaganda politica: cansada, gasta, rasgada e confusa… Olhamos em volta e tudo o que vemos ou ouvimos tem uma conotação fortemente politizada; todos os nossos gestos ou pensamentos são observados e avaliados. Todos, sem excepção, são miragem aos olhos dos que nos rodeiam. Uma miragem tantas vezes enganadora…

Não há privacidade nesta sala, onde nos misturamos e onde nos obrigamos a partilhar toda a nossa intimidade política. Perdemos, a certa altura, o pudor e hoje todos nos mostramos nus de preconceitos políticos, de uma forma tão primária, que parece tirar o encanto, que antes encontrávamos no recato das sedas transparentes e das danças de sedução dos debates de discurso elevado. Era neste jogo de palavras que se escreviam belos textos e se desenhavam límpidos quadros de sociedades idealizadas por cada um…

Antes estas paredes brancas seguravam cada um desses quadros, como se de uma galeria se tratasse… Todos os podiam admirar e avaliar. Hoje os quadros estão escondidos por panos pretos e substituídos por rascunhos, por inacabadas obras e cartazes que nada dizem… Hoje ninguém quer visitar esta sala…

E é nesta promiscuidade de uma sala sem mais do que quatro grandes paredes que se misturam hábitos e culturas, onde todos ignoram o respeito pelas obras desenhadas e pelos seus autores. Hoje executam-se danças tribais, violentas, que não seduzem, mas que apenas assustam e intimidam. Hoje as cores dos cartazes que cobrem as paredes são escuras, são assustadoramente tão iguais entre si, tão vazias de significado ao mesmo tempo. Hoje falam de pessoas e não de Pessoas.

E é isto hoje a sociedade e a politica aos meus olhos: uma sala de quatro paredes, com vícios, promiscuidades, pouco encanto e raro brilho. Mas outrora foi diferente…

À porta da sala há uma grande placa que diz:

Fechado para obras. Estamos a trabalhar para a dignificação deste espaço. Reabre dia 5 de Junho de 2011.

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