Amanhã vou dormirnão vou sonhar
vou ser feliz
vou ser eu sem ti
vais ser tu sem eu
não vamos ser mais nós
vamos ser livres deste sonho
O Tomás apresenta-nos a Vida de uma forma apaixonada, que se traduz numa busca incansável pela perfeição. Numa dualidade de sentimentos e estados de alma, que coabitam no seu corpo frágil, é ele quem mais luta por entre sonhos que o rodeiam e lhe trazem da vida uma aparente verdade. Procura esconder-se dentro desses sonhos, até que um dia deseja apenas acordar dissociado do seu eu mais triste e desapontado, do Homem que questiona o valor da Vida e que a encontra tantas vezes vazia e cinzenta. Do Homem que a não percebe. Do emocional ao racional, o Tomás representa, na sua essência, o questionar do valor da Vida.
Depois de Amanhã vou ser só eu
já não vou querer escrever-te mais
já não vou querer fazer-te sofrer mais
já só vou pedir o teu sorriso
Depois de Amanhã já só vou pedir que sejas feliz
Numa história que nos fala de Amor, feita de afectos, pára-se o tempo suficiente para pensar e sentir. O Suicídio está presente na sombra que cobre o palco a cada reflexão, a cada paragem… E são esses pequenos momentos que conduzem o Tomás no seu processo de aprendizagem sobre o verdadeiro sentido do eu. Entre formas rectilíneas e cores que lêem, a atenção nos olhares e nos silêncios são tudo. E é no silêncio profundo que o corpo e a alma mais choram.
No dia em que cair para o lado
No dia em que ficar encostado àquele muralha que construímos
Vou recordar o Amanhã
Vou recordar o depois de Amanhã
Vou-te perguntar se já és feliz
Nesse dia vou querer sorrir e descansar em paz.
Toda a acção reflecte o pavor e a inquietação doentia na vida deste rapaz tão jovem, tão aparentemente normal, que se parecem justificar em pequenas e evidentes aparências. O palco despe-se à medida que o sono caminha para o fim. A energia que coabita na sala com todos atravessa gerações e visões. É num zum zum constante de ideias, raivas, amores e silêncios ensurdecedores que a Vida perde cor e nos dá respostas. Como no inicio, continuará sozinho…
Até amanhã!..
Despedem-se dele, tranquilos da distância à cena… Feridos pelos ruidosos choros e desapropriados sorrisos, sabem que a Vida vale por si só…
Mas no fim, em palco, a vida é aquela mesma, que não se despede, que não nos diz até amanhã e que não nos deixa ir embora sozinhos.
João Ferreira
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