Todas as portas têm um significado e nenhum significado se ausenta da interpretação individual do ser humano.
O desafio de in camera foi essencialmente redefinir o conceito de humanidade. Clemência, generosidade, mortalidade, compaixão e afeição poderiam ser os sinónimos, mas nenhum deles serviria o propósito desta peça. Sabe bem ao Homem, que se tornou Poeta, ler e rescrever os olhares, os risos, as lágrimas e até os silêncios que se cruzam no tempo. Esse papel, porque mais fácil, ficou comigo.
O pragmatismo teve necessariamente de alimentar a visão do simples e frágil humano – do ser carnal, do ser impiedoso, do ser carente, do ser imperfeito, do ser que nos vislumbra do espelho e que nasce em cena. Não são momentos de interpretação fácil, nem abstracções de génio que me fascinam naquela sala. São sim as fracções do ser, do estar, do querer e do viver, conduzidas a ritmo pela sede do Poeta, que escolheu adormecer o seu lirismo.
Porque afinal o medo e o mal estão na alma dos poetas e não no calor das luzes que nunca se apagam. Porque afinal o simples cativa e deixa desconforto.
Não há por que ter medo. Abra a porta.
João Ferreira
Nota: Em cena de 25 de Maio a 2 de Junho de 2012 em Gondomar. www.inskene.org
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