2012


(Com Einaudi, porque foi um ano bom.)


Escrever esta nota hoje tem um significado especial, porque normalmente teria tido este instante momentos antes de me despedir do ano que se preparava para terminar. A verdade é que não houve nem tempo nem disposição e isso diz muito sobre 2012 e sobre isso escreverei também hoje aqui…
Gosto sempre de parar e pensar o que sou e o que fui e só assim faz sentido olhar e seguir em frente. Gosto de partilhar o que posso partilhar e o que é justo partilhar e por isso escrevo.

Finitude rompe as páginas brancas de 2012. Aprender a conviver com o presente, com efemeridade de cada instante foi a grande lição deste ano. Despedi-me de formas diferentes de pessoas que me ensinaram tanto… Hoje sinto e sei que sempre sentirei falta dos olhares, das palavras, dos silêncios, das emoções e da razão de quem tanto admirei. Não é a morte nem a ausência que fazem doer, é a consciência e a certeza absoluta do quanto amamos alguém, é a imposição de um silêncio de uma sala vazia, de um passado que fica cá e que vive num presente só nosso.

Um texto sobre os miúdos chega em Março, numa revelação do mais profundo fascínio pelos sorrisos, pelas almas calmas que eles transmitem nos ensaios, nas salas de espectáculo, nos camarins e corredores, nas conversas ao fundo das escadas, nas cartas e olhares discretos. Trabalhar ao lado de pessoas assim tem sido um privilégio. Fazer Teatro com quem ama esta arte sabe simplesmente tão bem. Estas pessoas e este projecto dispensam qualquer apresentação, mas ensinam-me a cada dia a importância de as ouvir, de estar presente, de criar oportunidades, de me obrigar a não julgar e de simplesmente estar.  Em Março aprendi o significado da palavra Presente…

Em Abril Imperfeito reflecte a consciência de uma saudade que chega tardia, que se aproxima sorrateiramente por entre as avançadas horas da noite passada longe do espaço a que chamo Casa. Estes versos ensinam-me que o presente não é suficiente para exprimir o que passa pela alma, que há momentos que se prolongam e se dirigem para um instante mais longínquo, que há momentos que são para serem vividos num absoluto silêncio, num outro espaço, num outro tempo.

Cor expressa-se numa noite de Maio, revelando a admiração por cidades que guardam pedaços de vida e que contrastam com outros espaços por onde apenas passamos, onde apenas estamos. Há espaços que nos dizem tanto, há caras que nos dizem tanto e outros e outras que não. Há tanto que se pode escrever, descrever e tanto que não...

Em Junho escrevo a palavra Cansaço com um significado novo, que só este ano me ensinou. É a representação de quem alcançou algo, de quem está exausto e precisa de uma pausa para olhar e reviver o passado. Seguir sempre em frente, numa corrida louca, sem olhar para trás é um exercício que obriga a para o tempo, que nos faz ficar exaustos e que tira um pedaço ao nosso passado. É uma sensação de perda de tempo. Sabe mal mas ensina a dar valor aos momentos que já não voltam.

Palavra é palavra que não uso, é um desespero onde me escuso. Palavra é a liberdade de eu ser e eu não sou poeta. 2012 proporciona uma consciência maior sobre a responsabilidade do uso da palavra, principalmente daqueles que, como eu, não são poetas.
Julho prepara encontros e desencontros com o passado e dá uma página para um fim de tarde na igreja de S. Domingos, que quis guardar em papeis. Há momentos que não quero esquecer e é nas palavras que os guardo.

Florbela, Einaudi, Sasseti, Pessoa estiverem presentes e fizeram nascer momentos que não são só meus, fizeram-me aprender a criar distância e a Ser - assim é mais fácil ser triste. Almas e Sorrisos responde a textos do passado e obriga-me a reler e a reviver os pedaços de vida soltos que fui escrevendo. Sabe bem ter o que ler. 00:55 marca a hora em que a palavra e a sua importância reaparecem de forma consciente, num exercício doloroso de ser e escrever simples. Agosto termina assim com um texto que fala sobre despedidas… Dias que retomam a Finitude de Fevereiro…

Setembro não foi um bom mês. Não escrevi.

A Preto e Branco chega a frustração de falar sobre a criação. Talvez porque admire tanto essa arte de criar e talvez porque sentisse falta de o fazer. É verdade que as pessoas com quem nos cruzamos são apenas mais ou menos por nossa exclusiva observação. É poderosa esta capacidade criadora e dolorosa a sua completa compreensão. Assim passou Outubro.

Povo é um elogio ao ser Português, vindo de quem, como eu, está longe e vê o seu país e as suas pessoas caírem de braços cansados no chão já sem esperança. É preciso algo mais! Falta a valorização da palavra, da pessoa e do país em Portugal... Mas não pode faltar nunca o orgulho em tanto que este país já fez, em tanto que tem a capacidade para fazer. Novembro tem ainda tempo para revelar um texto perdido no passado, Pausa, onde estão as cidades feitas de cores que não esqueço.

Amizade é uma palavra que uso. És tu, ele, ela, outros, outras e pouco mais. E basta. Dezembro encerra assim.

Não poderia ter escrito este texto no dia 31 de Dezembro. Não poderia ser texto de um instante, não poderia ter medalhas, nem nomes, não poderia ser como nos outros anos. Tinha que ser diferente. Não é um texto sobre felicidade e tristeza, nem sobre os bons e maus momentos. É apenas sobre o que escrevi.

2012 ensinou-me muito. Obrigado a quem esteve comigo.
Até sempre Avó.

Em 2013 espero que estejas tu, ele, ela, outros, outras e pouco mais. E basta.

João Ferreira
Gondomar, 2 de Janeiro de 2013

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