A ponte.


Fixo o olhar num pássaro que voa
e deixo o meu corpo rodar por entre os azuis e os brancos difundidos,
esperando que chegue a noite.

Escrevo sobre mim, como se escrevesse a ninguém,
para ninguém.

Escrevo histórias para que os outros as leiam.




Vagueando entre as sombras 
dos quadros que guardo 
em paredes tão brancas, 
tão novas, tão cruas, 
encontro a ternura de um só abraço, 
olhando a inquieta cidade que não dorme, 
vendo vermelhos de um ferro imenso 
corando o rosto de um rio
que nos lava a alma, 
que nos dá espaço a viagens e a partidas.

Encontrei o nosso perfeito amor
escondido no vidrado espelho das lágrimas do teu olhar,
pintando de cinzentos e carregando de negro a palavra
saudade.
(E de quem sempre li o olhar
como versos de uma beleza rara,
é estranho perder o sabor de uma pele que nos completa.)

Amarrados a longos casacos de pelo preto,
deixamos escapar sorrisos e palavras nossas,
como se tudo ainda estivesse bem,
como se ainda fora o tempo da pura simplicidade.

Ninguém criou esta cidade para nós,
porque fomos nós que nos descobrimos a sós,
mas há uma luz azul, 
que se reflecte como prata ao longe
e que te dá a verdade que só os poetas encontram
e sabem traduzir em palavras e silêncios,
como este.



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