A terra dos homens

(A propósito do meu país, onde cada vez são mais as palavras e os números vagos e onde opera uma razão que pretende calar os artistas. Sobre um país feito de um medo calado.)


Não podem ser as árvores plantadas nas cidades
Que disfarçam os bandos de homens doentes e com medo.
Tem de ser algo mais forte, que opera com a força da razão.
Têm de ser mulheres e homens fardados.

Porque até nas montanhas distantes crescem árvores,
Diante de um céu azul e pleno.
E não é nessas montanhas que respiram os envergonhados artistas.

Porque não é lá que estão os rostos perdidos.
Porque não é lá que as multidões se alinham em silêncio.
Porque não é lá que os quadros são mais belos, nem as notas melodiosas.
Porque não é lá que os gritos ecoam nas almas com fome.
Porque não é lá que o medo ganha vida na luz do dia.
Porque não é lá que os livros, os quadros, as pautas, as vozes e as estátuas podem falar.
Porque não é lá que vivemos.

E é onde o céu fica cinzento, onde a razão opera,
Que se respira um ar mais denso e sufocante.
É na terra dos homens que nascem os artistas, verdes como árvores,
Que nos dão ar e que olham sempre o céu azul e pleno.

Não podem morrer as raízes de uma terra tão bela,
Onde as montanhas desaparecem por entre palavras e números vagos.
Porque assim seriam apenas cidades de mulheres e homens fardados,
Sem árvores, feitas de um céu cinzento.

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