Adjectivo (sem métrica)




Quando procuro a palavra certa e não a encontro,
Basta-me escrever em verso.

Sei que assim desenho melhor,
A tinta preta, nesta folha de papel amarelado.

As sombras que guardo projectam-se no papel.

Paro e rasgo.
Rescrevo.

Respiro e conto cada movimento do meu peito.
Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Onze. Doze. Treze. Catorze. Quinze. Dezasseis. Dezassete. Dezoito. Dezanove. Vinte. Vinte e um. Vinte e dois. Vinte e três

.

E o giz rasga a superfície do papel.

Livre no sorriso, no movimento, nas palavras.

Selvagem. Pássaro. Ave de rapina.

Mas o verso dá-me o tempo para te abraçar
E as palavras ganham outro sentido assim.

.

...e dois, e três, e quatro, e cinco, e seis, e sete, e oito, e nove, e dez

.

Tu não finges para me fazer sorrir.

Verdadeiro.

Transparente?

Os teus olhos tornam o desenho difícil.
Densos, de quem viaja um mundo todos os dias.

Distante.

Depois há o coração, que bate num ritmo teu, descompassado,
Que te enche a pele de cor, da tua cor.

E enches a folha de papel em palavras.
Um sorriso feito de Rs.

Raro.

.

...e trinta e sete, e trinta e oito, e trinta e nove, e quarenta.
Quarenta e um.
Quarenta e dois.
Quarenta e três.
Quarenta e quatro.

.

Só.

.

Podia escrever mais mil palavras,
Sem saber o adjectivo.

Munich - Estocolmo, Março de 2018


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