Para quê a fotografia?


Antes que as palavras me fujam
Seguro a caneta com firmeza
E escrevo cada verso pausadamente,
Enquanto o meu coração dispara
E corre veloz por entre as imagem de sorrisos e abraços de miúdos.

(Não sei desenhar e por isso não me corre o traço do teu rosto no papel.)

Soltam-se as palavras, sem rima.
(Sem nexo?)
Separadas por espaços, virgulas e pontos.
Assim estou eu sem ti.

(E pergunto-te como estás e beijo-te e abraço-te aqui, neste caderno pintado a tinta preta.)

É mais fácil compreender o coração quando te escrevo,
Porque me encho com as tuas imagens, os teus sorrisos inseguros,
Com a luz viva do teu olhar.

Não te conheço e já sei tanto sobre ti.
Só.
Nem sempre só.
Nem sempre tu.

Quando dormes e respiras e lutas pela noite dentro, vejo-te, ali, sem máscara.
E por isso durmo tão pouco, por isso a noite se transforma dia.
E por instantes não estou mais suspenso.
Estou ali para te segurar.

(Há momentos em que gostava de te poder compreender melhor.)

A tua voz muda e as tuas palavras ficam mais curtas,
Quando te queres despedir.

E as lágrimas que pintam esta folha de papel não servem para formar um rio, que nos una ou nos separe.
Estou tão perdido quanto esta poesia, que se vai tornando prosa.

Suspenso.

Mas sempre que viro o olhar
Vejo-te em pé na janela,
Vejo o fumo que te esconde o rosto,
Vejo a silhueta desenhar-se no negro, ao fundo, no palco.

Talvez partas.
Novamente.
E eu fico.
Mas desta vez guardo muito mais.

Fico vivo.
Suspenso.
De coração incontrolado.
Inacabado.
Teu.

Não há nada mais belo do que isso.

Suspenso sobre a paisagem mais bonita.

Talvez,
Novamente talvez,
Largue as mãos e me agarres.

Por agora olho esta imagem
E sei que não foram para outros as tuas palavras:
- Para quê esta fotografia?

(Lyon - Porto, 4 de Maio de 2018)

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