5 semanas de amor

Conheci a Clara quando ela tinha 16 anos. Foi durante a missa de Domingo, na igreja de S. Domingos. Era Julho e eu queria fazer os meus 18 anos. Faltavam 3 semanas. Esperei a missa acabar e seguia-a até ao Rossio. Parou. Despediu-se de uma amiga. Vestia uma saia amarela. Ficamos os dois imóveis no meio da cidade, que continuava a caminhar à nossa volta. Eu enchia-me de coragem. Ela decidiu ir embora.
Durante semanas voltei sempre à missa de Domingo. Fiz 18 anos. Voltei mais duas vezes. E a rapariga bonita, que baptizei de Clara, não apareceu. Aprendi ali que o Amor existe. Durante 5 semanas existiu um amor que me encheu o peito. Depois, como já era adulto, decidi juntar-me à cidade e continuar a caminhar.
Pintei a cena da menina e do Rossio incessantemente. E o quadro, manchado de amarelos, nunca me chegou. Um dia cansei-me e vendi-o. Até hoje não sei onde para a menina Clara.
Entretanto já caminhei quilómetros. Ainda acredito que o amor pode durar 5 semanas. Ainda vou, de quando em quando, à missa de Domingo. Foi lá que casei, que baptizei o lado esquerdo e direito do meu coração, que me mantém vivo. Foi lá que assisti sentado ao casamento deles. Foi lá que me despedi de ti. Saí pela porta, caminhei até ao Rossio e fiquei parado e ninguém entendeu o porquê. Depois segui a pé até casa.

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