Partida




Quieto, parado, cansado da saudade,
Com o rio deitado ao lado da sala,
Escrevo e apago e deito fora as cartas,
Pintadas a preto e branco
E parto para voltar. Sempre.

Trago flores, cores e palavras das cidades que encontro
(Onde me encontro)
Cidades cheias de ti, de nós, de ninguém
Onde danço e respiro e deito fora o ar.
Cidades cheias de cores, de casas e de janelas,
Cheias de vida e de vidas, que não conheço.

Volto e acendo a luz do candeeiro amarelo do canto da sala,
Que sabe mais de mim do que as paredes,
E sinto o frio lá fora, do Inverno, que chegou,
E deixo a minha janela iluminada com a porta de casa trancada,
Por dentro.

Parto para voltar.


João Ferreira
(Bruxelas, 1 de Janeiro de 2020)

Comentários